Onde estás?

As escadas brancas contrastam com o alcatrão negro do outro lado da porta. Diz a minha vizinha do 2º andar que antes o negro era mais claro e que o barulho mais silencioso. Eu não consigo imaginar estas ruas sem o fumo dos carros, sem as sirenes da polícia, mas sei que este pedaço de terra antes era arrabaldes de lojas de compras de Natal que as pessoas visitavam uma vez por ano, sei também que tentaram limpar o rio por onde agora faço passeios matinais e por onde deixo promessas de começar a correr um dia.
Hoje continua a não ser Lisboa, os distraídos acham que sim.

Eu não sou daqui, deste 3º andar, nem desta cidade, mas já sou um bocadinho da minha vizinha e do rio. Do rio sempre fui, sempre tive uma ligação com as margens, com os braços, com as melgas que por aqui ainda aparecem de quando em vez para me fazer lembrar que a distância é um caminho que não se percorre, que não se esconde e que nos encontra sem
pontes, construindo pilares sobre a água para que substituam barcos por carros, para que tudo volte a ficar mais perto.

Estou tão perto do lado de lá como este prédio da estrada que liga à cidade que os distraídos não percebem que acabou.