Alguém fez a contagem decrescente e a sala foi invadida por gritos, música, costas para o cameraman, ao mesmo tempo que do breu da janela irrompiam tiros coloridos que calavam o sossego do contexto. Não sei se senti maior ausência no barulho ou se no silêncio que o antecedeu. Sem saber o que esperar, sabia que não esperava aquele desfecho, tal como não esperava que a incerteza durasse mais quatro meses, nem que em cima dela caísse a minha avó, ou que o coração pudesse ser ainda mais rasgado.
Sempre disse que sou sazonal e com as primeiras flores o sol foi aparecendo num Verão que prometi ser de areia nos pés. Foi um bocado a ferros e talvez por isso tivesse tido tanto frio, aprendi que não se devem forçar lugares, nem pessoas, quando o que nos faz encher o peito dorme ao nosso lado, quando o que sabe melhor não tem hora marcada, nem para vir nem para ir, e o Outono veio tardio e doente, trazendo de volta o sabor do ninho e a magia das luzes.
Deixei-me ficar embrulhada na manta do sofá onde não cabem as minhas pernas e vi chegar o frio de novo, embrulhei-me no meu aquecedor contador de histórias e vi-me muitas vezes no espelho.
Recusei lugares e pessoas e, de repente, alguém fez a contagem decrescente e a sala foi invadida por gritos, música, costas para o cameraman, ao mesmo tempo que do breu da janela irrompiam tiros coloridos.

"- Ammu, quando se está feliz num sonho, isso conta?"
Arundhati Roy
Processo
Foste tão bom a elevar-me
Deixando-me cair
Decidiste não querer saber, sabendo
Não perguntaste o que me fez sentir
Fui respondendo ao que nunca existiu
Vi-te por dentro, vendo por fora
Vi-me por fora, vendo-me de dentro
Escolhi deixar-te ir ficando indo embora
Porque quis deixar de querer
E na diferença fomos iguais
Ninguém assumiu um adeus
Tu não querias perder, perdendo
Eu não te queria guardar, guardando
Mudaste,
Mudaste-me
Guardei-te
Mudei
Perdeste ganhando
Ganhei perdendo
Perdi-me
Perdeste-me guardando-me
Arrumei-te arrumando-me
Perdemo-nos encontrando-nos
No que sempre foi um Adeus
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