Encontrei-te junto ao portão azul que abre caminho para o meu sossego. Escolheste aparecer por lá, todos os dias. Deixei-te entrar achando que mendigavas água e uns restos de qualquer coisa, cedo descobri que a mendiga era eu. Abri também o retângulo castanho que dá acesso a tapetes e coisas de pano, mas apenas porque chovia, agora sei que foi mais que te dar tapetes e tijolos, dei-te a minha vida.
O toque que fez toda a diferença, a calma entrava-me pela ponta dos dedos e pelas palmas das mãos, este poder olhar-te e ver em ti a pureza de se ser. Trazes-me um sorriso e a abstração do relógio, contigo sei que os minutos não se contam por saltos de uma seta presa num círculo fechado. Contigo percebo os silêncios e os alaridos, és presença que cura, que amolece, que liberta, que me lembra que somos todos tudo, num conjunto só.