E pediram 1 minuto de silêncio…
Ali fiquei, sem falar, sem tossir, sem chorar, sem rir.
Observava todas as pessoas, os seus olhos, lábios e as suas mãos. Reparei que a grande maioria ou olhava para os pés, ou para as nuvens. Era quase como se o silêncio, apenas pudesse ser possível, se os olhos não se distraíssem. Devia ser por causa desse esforço de não olhar para nada que as bocas se mantinham serradas e as mãos dadas, não com o vizinho do lado, mas uma com a outra, umas pessoas mantinham-nas à frente e outras atrás. Se calhar silêncio é sinónimo de postura, como numa aula de pilates quando o instrutor pede 1 minuto em prancha e todos se posicionam, ninguém fala, ninguém olha e, fica tudo a sofrer por 1 longo minuto.
Falando nisso, reparo agora que 1 minuto numa posição ou em silêncio faz alongar os segundos e faz ouvir estalinhos nos ouvidos.
Mas pelo menos nós ouvimos, sentimos os músculos, pesa-nos o tempo. Aqui há um de nós que não tem essa possibilidade, para o Dr. Alves Pedreneira silenciaram-se todos os minutos. Será que o minuto de silêncio é uma honra não à pessoa, mas ao seu silêncio? Não é este um cinismo mascarado de honra?
E se for eu? Eu não quero 1 minuto de silêncio, eu não quero que partilhem o silêncio e o vazio comigo. Eu quero é que falem, que riam, que corram, que comam.
De repente o meu peito apertou e não conseguia respirar, estiquei o pescoço até ao céu, abri a boca e tentei inspirar por todos os orifícios, imaginei-me girafa, imaginei todos à minha volta árvores, olhei o sol e só queria conseguir respirar…
Muitas palmas acabaram com este meu suplício, 1 minuto de vida, 1 minuto de mim… saí dali, fugi dos assobios, do som estridente das mão a baterem, fechei-me de carro e deixei-me ficar fechada, em silêncio.