Dói-me a alma, uma dor que prende o peito, dói o pensar, o respirar, o concentrar, é como ter mil facas espetadas no coração que atordoam o equilíbrio, que cortam o fio de coco que nos mantêm em posição recta.
Acaba-se o sorriso sincero, acaba-se a predisposição, esbatem-se as cores, abafam-se os aplausos ou murmurinhos do público. Entrei numa prisão sem grades nem polícias, num espaço demasiado grande que causa claustrofobia crónica.
Andei de palma, e agora de biquinhos dos pés, e doem-me as pontas dos dedos, não há caminhos sem buracos e há buracos que se agarram. Tiraram-me a noção de profundidade… Olho para dentro de mim, directamente para aquele espaço acanhado e expansível que existe no peito e, depois, espreito para o emaranhado de palavras bem a cima da boca, para ver o que pode escorregar até ela, sem tirar o tapete debaixo dos pés de ninguém e tento continuar de pé!
Passas por cima dos buracos como se eles não estivessem lá, vês as cores como se nunca as tivesses esbatido, vês as fotos como se não tivessem desfocadas e falas com a passividade de quem não tem consciência…
Fica tudo bem… eu tapei o buraco e saltei por cima, peguei nas folhas e coloquei-as na arvore, peguei nas cores e colori-as, peguei em mim e continuei a andar…