Juras

Há pessoas que não lêem jornais, o mundo aflige-os. Edgar escrevia livros, viajava e conhecia pessoas pelo mundo, apaixonado pelas pequenas histórias e coisas, às vezes esquecia as grandes. Era um criativo do pôr ao nascer do sol, dormia até acordar e começava os dias devagar. Tinha 45 anos e estava…

O Jogo dos dados

O Manuel, da Aldeia Baixa, primo da Maria, via demais desde pequeno, via para lá dos objectos. Usava óculos para poder ver o que todos os outros viam. Eram óculos desgraduados. De tanto tentar não ver, caiu, escorregando numa casca de banana. Eu estava na sala ao lado e só…

Gulodice

Quando via um bolo avançava com raiva e acabava com ele logo ali. Era um ímpeto que muitas vezes começava no nariz e não na barriga. Era o doce que chegava em respiração que fazia com que os olhos esbugalhassem em busca de fatias, bocados e pecados. Assim que localizava…

A Árvore dos Livros

O Sol teimava entrar pelas fissuras das portadas de carvalho, quando o despertador tocou pela terceira vez, já em cima do soalho envernizado e luzidio, que Dália se levantou contra vontade. A noite tinha vindo cedo e ela tinha-se deitado tarde de regar tantas raízes.  A Dália vinha de um…

Pastelaria Recife

A PARTIR DA 1 HORA TODAS AS BEBIDAS SÃO CONSUMIDAS DENTRO DO ESTABELECIMENTO. Diz a placa amarela no café de esquina que dá início à Rua do Alecrim. Não percebi, sabia que os cafés na zona do Cais do Sodré só fechavam às 2 horas. Entrei para beber um café…

Anónimo

Na Travessa do Alecrim entre passeios e degraus estavam umas mesas barril que juntavam pessoas e conversas. As ruas e os barris têm esse encantamento, puxam à conversa entre conhecidos e estranhos. As mesas eram todas para mais do que de uma pessoa. Casais, amigos, sorrisos, olhares entre pratos, copos…

Quem sou?

Eu sou na medida certa de uma mão, redondo e liso. Ao primeiro contacto sou frio e distante, mas passado um pouco, começo a aquecer. Por dentro sou espelhado e mostro o melhor e o pior de quem chega perto. Sou amigo e ajudo a corrigir imperfeições. À primeira vista…

EMA – Show, don’t tell.

Bateram à porta. Já íamos a meio da aula, como estava mais perto, fui eu abrir. – Boa tarde. – disse em automático quando dei de caras com a Ema de sorriso tranquilo e olhos cheios de calma. Vinha para aula, estava de Erasmus e tinha-se apaixonado pelo Português. Deixei-a…

Cores e Aromas

CHEIRA-ME (cor) verde.É O AROMA PREFERIDO da tia Esperança que queima incenso de manhã à noite, com medo do que não vem.LEMBRA-ME a cozinha. O aroma preferido da tia Esperança é o incenso de chá verde. De tarde a Francisca ia sempre ver a tia, de cabelo grisalho no seu…