Palavras

Havia demasiadas perguntas na cabeça dela e, uma delas, era se as palavras podiam sentir-se solitárias.
Sem pensar muito dizia que não. Que as palavras aparecem sempre acompanhadas umas das outras. Uma palavra sozinha não tinha vida.

Bidé

Assim sem mais nem menos não era nada.
Para que serve uma palavra sozinha?

A olhar para o rio parado, pensou para que servia um rio que não ia para nenhum lado? Deixava de ser rio, podia ser outra coisa qualquer mas rio não. Tal como a palavra sozinha, podia ser outra coisa qualquer, mas não era palavra. A palavra precisa de outras palavras, mesmo o sim e o não só têm valor precedidos de outras palavras.

E apareceu uma onda no rio.

As palavras solitárias não são as que estão sozinhas, são as que não se sucedem.

E outra onda apareceu no rio, molhou-lhe os pés.
Era fria e solitária como sentia as suas palavras.

Estavam juntas e sucediam-se, não havia razão para ter frio nos pés. Os rios não têm ondas, está algo mal!
As palavras não são rios parados, as palavras são ondas, não são solitárias. Mas ela era! Então as palavras solitárias são das pessoas que também são, pessoas que não se sucedem, que não passam a palavra, que as guardam como aquele cimento guarda o rio parado.

E aquelas ondas?
São palavras que se interrompem, que aparecem sem sentido, assim do nada…

Bidé