Dias em que não cabe tudo aqui dentro, em que há um overbooking na ligação (por vezes aérea) entre o coração e a cabeça, numa tarifa roundtrip. Fica tudo atrasado, criam-se filas de espera, nascem impaciências e a vontade de ir supera o “quem espera sempre alcança”. Cria-se o caos e o foco fica mais difícil de manter porque o destino está a longas horas de distância e o voo tende a ter mais turbulências e poços de ar do que os braços do banco conseguem conter.
Respiro fundo, entre um sorriso e uma lágrima, para que apenas o primeiro seja visível aos olhos dos que me cruzam e não ficam.
Não olho para o relógio para não alimentar o tempo. Olho para as pessoas, para as coisas, para alimentar a esperança e, em dias de overbooking, evito olhar para mim cheia de viagens nunca acabadas.
Preciso de andar, de sentir o fresco na pele, de poder parar, de fechar os olhos sem ninguém por perto, de deixar a alma queixar-se e de lhe sussurrar ao ouvido que não faz mal ser-se assim… incompleto!
Não me apetece voltar para casa, nem conversar ou explicar, nem ser racional, nem acreditar que tudo isto nos torna mais fortes, que estas peripécias serão um dia contadas como aventuras de viagem. Estou cansada que o Mr. Bad chegue em executiva e com desembarque prioritário e que o Mr. Good continue a vir em classe económica, com escalas e atrasos na entrega das bagagens.
E ser ao contrário desta vez?
De repente, o Mr. Good receber um upgrade de classe, numa cabine cheirosa com espaço para as pernas. Não vai ser hoje, que há um overbooking, mas podia ser no voo de amanhã. Fretem mais aviões, coloquem mais pessoas no check in e, que se lixem as bagagens… Até lá, estou aqui, na porta de embarque… em overbooking.