Maria Manuela Menina da Cruz, nome molhado pelo velho preto da nave fria.
Crescia Manuela Cruz. Minguava Maria Menina em turnos escuros onde oferecia bochechas e cravava lume. Pintava de vermelho o amarelo dos dentes, afagava cinzas com dedos queimados no bico do fogão.
Preparava enchidos que servia Manuela à mesa com o mesmo vigor que Maria segurava carnes vivas no chão. Apurava pimentas em panelas para que o pecado do tempero não a levasse à fogueira e fosse só candeia de redenção.
Quantos mais anos passavam, mais gemidos guardava na Cruz que herdara de pai sem pão.
Viu na noite o brilho das estrelas cintilarem nas algibeiras. Alimentava bocas e corpos tapando buracos de barriga com barrigas sem proteção.
Achou Maria que a noite seria boia de dias de Manuela sem razão. Viu-se esvaziada, enrolada em bocas molhadas a naufragar no fogão.
Maria Menina
Manuela Cruz
Maria Manuela Menina da Cruz.