Eu, este ano, estou a cumprir a promessa de ir ao Carvalhal.
É onde mora a minha tia-madrinha Maria, que ficou em pulgas quando combinamos o dia. Que
mulher! Admiro-lhe o conhecimento. Para males de barriga, festas na direcção dos ponteiros do
relógio e água quente nos rins; para dores de cabeça, um café sem açúcar mas com umas gotas de
limão e uma reza de água e azeite; para roupas encardidas sabão azul e branco e sol. Todas as
receitas tinham um ingrediente comum, uma boa dose de paciência.
Foi com essa dose de paciência que voltei, que isto não é terra que me faça sentir em casa, os cães
empoeirados às voltas no terreiro onde se almoça em dias sem chuva; as moscas negras que se
anunciam com o zumbir assim que se tira a primeira dose da grelha; os caminhos entre a cozinha de
serviço, o terreiro e a casa de banho com terra e ervas e bichos até aos tornozelos. Duvido que
algum dia tivesse gostado realmente de cá estar. Sempre vim porque os meus pais diziam que os
ares do Carvalhal faziam bem aos meninos da cidade e, nunca os contrariei porque gostava das
histórias do pôr do sol da madrinha Maria.
Agora ia lá buscá-la e levá-la sem sair do carro. Duas buzinadelas e estava feito. Todos os anos
prometia que havia de sair e entrar, todos os anos a pressa, o trânsito ou um “para a próxima”, me
salvaram de pisar aquele chão de pedra cinzenta.
É hoje, pronto, respirar fundo e sair do carro.
– Madrinhaaaa, Tiaaaa Mariaaa! Está onde? Já cheguei! Madrinha, é o seu João, Alôooo!
E, quem a encontrou rodeada de poeira e cães e moscas e azeite, naquele dia sem chuva, fui Eu!