Tinha feito tudo o que lhe era exigido e suposto, o melhor que conseguia. Secundário, carta aos 18, um grande amor jovem, de cabelo claro e olhos verdes, com quem se aventurou a toques e retoques.
Meia perdida lá foi para a Faculdade em Lisboa, expresso 1h para cada lado. Era irmã mais velha com a responsabilidade esperada.
Depois do estágio, com sede de independência e liberdade, pôs os pés na parede em casa dos pais, e trocou o expresso por um quarto em Lisboa.
Pouco tempo depois a família desfez-se e recebeu de prenda uma desorientação emocional, um vácuo que a impossibilitou de voar. Pedras no caminho, tropeços, fé, equilibrismo, quedas, Sul, aliás muito Sul, algum Norte, conquistas, dores, amores, desamores e …
– Tem filhos?
– Não.
– Pensa ter?
– Sim, sim.
– Consegue colocar esse plano numa idade?
– Claro, pelos trintas.
– Fez 30 em Janeiro, estamos em Setembro!
– Ah! Eu, 30?! Pois, não é isso, é trintas com s. Mais para a frente.
E foi neste momento, em plena entrevista de trabalho, que percebeu pela primeira vez, a idade que tinha 30!
Estava a mudar de trabalho porque no anterior não recebia desde Abril.
Ia sair de casa porque o ajuntamento que achou ser para o resto da vida, tinha acabado. Se na fase da inconsciência foi trocada por um corpo, agora foi trocada por um monte, esse espírito livre que queria e invejava, tinha livremente ido embora.
30 anos, nada de casa, de amor, de filhos, de dinheiro ou trabalho.
Não sabe bem como chegou aqui, onde deu tudo errado.
Dois dias depois, ficou com o lugar da empresa, correspondia ao pretendido, disponibilidade imediata, possibilidade de horários rotativos, sem filhos e sem vida. Foi a melhor candidata.