A PARTIR DA 1 HORA TODAS AS BEBIDAS SÃO CONSUMIDAS DENTRO DO ESTABELECIMENTO.
Diz a placa amarela no café de esquina que dá início à Rua do Alecrim. Não percebi, sabia que os cafés na zona do Cais do Sodré só fechavam às 2 horas. Entrei para beber um café duplo, estava cansado. Perguntei ao Sr. Pinguim, que vivia atrás do balcão transparente, o porquê daquele aviso em letras garrafais.
– É assim e ponto final!
Não gostei da frieza da resposta e continuei sem perceber, então apareci à uma da manhã. A curiosidade tinha-me tirado o cansaço.
– Um gin de framboesa, se faz favor.
Sisudo pousou o copo em cima do balcão, virei-me para ir para a mesa e a esplanada tinha desaparecido. Nesse momento senti-me tentado a pôr um pé do lado de fora do café, agora bar. E assim fiz. Levantei-me de mansinho, fingi estar a falar ao telemóvel e aproximei-me da porta, olhei para trás como se nada quisesse ver e passo à frente, estava na rua de copo na mão.
Silêncio… os carros pararam, os semáforos apagaram, as pessoas calaram-se, o telemóvel desligou-se e o copo estava cheio, de água.
Tremi! Fiquei seco, um relógio no estômago e uma bomba no peito. Corri para dentro e não consegui lá chegar, corri, corri, via a entrada, mas a calçada era passadeira rolante debaixo dos pés.
Larguei o copo. A água caiu-me como uma nuvem a desabar em cima de mim. Copo no chão, copo na mão e nada de chegar à porta.
Puxou-me o Pinguim, mais quente que eu, já gelado da noite fria. Serviu-me um chá. Esperei amanhecer com o Pinguim de companhia. Nunca eu gostei tanto de uma pessoa fria!
O Sol raiou, saí sem copo mas com a certeza que nem tudo na vida tem de ter explicação.
Uma semana depois voltei, pedi um gin … e paguei os cinco da semana anterior.
(Observação de Rua)