A carta

Querida mãe, (é assim que se começam as cartas, não é?!)

Tive nega no teste de matemática, eu sei que achas que me posso esforçar mais, e o stôr acha o mesmo. Odeio aquela escola, aquelas pessoas todas que não me falavam e agora, além de não falarem, olham-me às escondidas.

Na segunda-feira passada vim para a rua na aula de inglês. Estávamos a ler um texto de um Sir qualquer para dar contexto aos TPCs deste fim-de-semana, que são a preparação de um poema para o Dia da Mãe. Foi uma fúria, daquelas que nem sei explicar de onde veio, rasguei os livros todos que apanhei até ter sido expulso da sala e reencaminhado para o gabinete da psicóloga.

Não abri a boca e também não a ouvi.

Desculpa.

Segui o teu conselho, escrever. Escrever o que sinto, mesmo que não saiba para quê ou o quê. Só escrever. Nunca ouvi os teus conselhos, é que são chatos, fazem pensar.

Não são, eu sei. Mas olha, hoje estou a escrever. Também tive nega a Português e o pai tirou-me do andebol. Deve achar que fico com mais vontade de fazer alguma coisa, mas é mentira.

A ti prometo que vou estudar mais e jogar menos. O ano ainda não está perdido. Quer dizer, está, mas na escola não. Quero é bazar dali rápido. Prometo ter tudo positivas, e ser mais simpático. Não me vou esquecer da tua frase, “um sorriso não conta mentiras, nem verdades, mas conta muito”.

Não sou grande coisa a cumprir promessas, nem castigos.

Mas prometo que vais ter orgulho em mim, quero muito aquele teu abraço que faz de mim a pessoa mais importante do mundo. Não vai dar, já sei, os mortos não abraçam.

Se eu cumprir, voltas?