Nano VI
A porta rangeu, não abriu, a luz acendeu, não iluminou, a faca caiu, não cortou, GRITEI!
Puxei a cadeira de madeira pintada de azul com rosas brancas e assento de verga para perto das labaredas e sentei-me, com uma manta enrolada nas pernas. Achei mesmo que era o local ideal. Tentei ver o espaço para lá de mim, um lugar perfeito. Senti as bochechas a ruborizar…
Uma criança brinca com um carrinho quando ouve um latido ao fundo da rua, que a faz levantar os joelhos da lama. Aquele gesto repentino despertou a minha curiosidade de janela. De pescoço esticado e em bicos de pés senti-a desejar ter mais uns centímetros. O latido parecia mais perto…
Mariana aproveitava o café à porta do escritório para passar os olhos pelos títulos do jornal. Um prazer misturado com angústia, era a primeira altura do dia em que tinha a noção que nunca tinha tempo. Das gordas todas que lhe entravam pelos olhos podia escolher uma magrinha para ler….
Inês, Os meus pés afundavam-se entre grãos, raízes, restos de folhas e alguma lama, sentia-me preso ao chão. Às vezes, quando o vento era mais forte, aproveitava o balanço para tentar voar, fazia-o desde criança, com desejo de acabar com aquele aperto que todos diziam que me manteria vivo, mas…
“Estás linda nesse vestido verde oliva.” Teresa olhava para o telemóvel, enternecida como se olhasse para o primeiro sorriso de um bebé. Ouviu o telefone da clínica tocar e apressou-se a atender. Enquanto marcava mais uma consulta para o Dr. Tavares, sentiu um aperto no peito. Pedro dormia quando saiu…
Mais uma manhã que pesava, parecia que todos os galos da vila faziam dos ombros de Adelaide poleiro, onde cravavam as unhas sujas de terra para ganharem força para cantarem a alvorada. Já pouco saía de casa, mas fazia questão de se vestir e maquilhar como se fosse dia de…
Entre soluços e palavras que não conseguia finalizar, Manuel estava afogado em lágrimas que lhe toldavam a capacidade de verbalizar o que sentia. Tinha acabado de ficar de castigo, uma semana sem jogar a sua meia hora diária de World Craft. Não percebia, não lhe conseguiam explicar e ele não…
Agosto torrava cabeças, tejadilhos de carros e alcatrão, pelo que a maioria dos lisboetas fugiam da cidade em busca de água de nascentes, cascatas e mar, para arrefecerem neurónios e mornar corações. Guiomar era das poucas pessoas que preferia ares condicionados entre quatro paredes ou portas. Aproveitava o Miradouro da…
Lançou os dados e pareceu-lhe que tinham ficado em suspenso. O ar que lhe saía do corpo tinha-lhe paralisado a visão, como quando pausamos um filme e a imagem fica estática no écran. O senhor de camisa azul e botões de punho ficou de cabeça baixa a olhar para o…